sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Medo de Acordar

Já era tarde da noite. Chovia. Rebeca estava em casa, olhando pela janela embassada as gotas enfurecidas tocarem o chão. Sofria de um triste mal - prosopagnosia- uma doença neurológica na qual não se reconhece o rosto das pessoas, inclusive o seu próprio rosto. Apesar de se olhar no espelho não via seu rosto, Rebeca jamais se reconhecera, não fazia idéia de sua aparência e nem da de seus conhecidos e familiares. Não sabia o significado de face, identidade. Reconhecia as pessoas pela voz e cheiro, pelo formato do corpo, não pelo rosto. Talvez por isso fosse um tanto melancólica. mas naquela noite tudo mudou. Trovejava e relampejava muito. E entre os clarões pode perceber um rosto na janela. No início não entendia o que estava vendo, afinal, jamais vira um rosto antes. Não deu muita importância, mas a chuva aumentava e os rostos também. Cansada e com sono, cochilara no sofá. Acordou com um barulho, sobresaltada, parecia que alguém estava em casa, mas ela estava só. Se levantou, e foi descalça até a cozinha, apagara as luzes e foi para o quarto pelas escadas. Ao pisar no primeiro degrau, sentiu os pés molharem, olhou para baixo, mas a escuridão não permitia saber o que era. Continuou subindo, os degraus estavam encharcados. Seus pés afundavam cadaz vez mais a medida que sobia, já estava perdendo o controle, sentiu uma mão puxar seu tornozelo. Acordara sobresaltada, ainda chovia, Levantou passou pela cozinha mas deixou a luz acesa. Subia as escada e junto com elas um calafrio nas espinhas, sentiu também alguém correr atrás dela nas escadas, correu desesperadamente até o topo. Acordara, sobresaltada com a imagem de um rosto na memória que não sabia de quem era. Levantou, nesse momento um relampejo revelou uma imagem, frente a frente com ela, uma mulher. Pôde sentir a respiração dela em seu rosto. Sentara num susto. Não conseguia pensar em nada. Deitou-se novamente, fechou os olhos. Acordara sobresaltada, com um susurro em seu ouvido: " Levanta". Levantou, foi até a cozinha, pegou um copo de água, não conseguiu beber. Sentiu um vazio que não sabia explicar, não sabia o que fazia ali naquela casa, que era sua, mas não se lembrava nem mesmo de como chegara lá. A última coisa de que recordava era de sua mãe saindo do carro dizendo "vai com Deus". A chuva tinha diminuído, foi até a janela para observar, não existia nada do lado de fora, só um penhasco, um vão, deu um passo para trás, esbarrou em uma pessoa, sentiu seus pés molhados e frios, fechou os olhos e viu uma mulher de roupas encharcadas, viu seu rosto, os lábios roxos de frio e uma respiração tão fraca que parecia não respirar, estendeu o braço numa tentativa de tocar o rosto da mulher, num repente se reconheceu, era ela mesma, parecia perdida, tocou seu próprio rosto, sentiu um frio invadir a alma, se transportou, estava no corpo da mulher, presa e gelada. Acordara, não estava morta, não era outra pessoa, era ela mesma, presa em um mundo seco, de mentiras e egoísmo que criou pra si, estava presa em estado de coma, sentada numa cadeira de balanço onde permanecia após um surto.

2 comentários:

Lorena Dornela disse...

Ow... Arrasou!!!! Simplesmente amei! Mto bom mesmo.

Tyago de Paula Ferreira disse...

Surtou hein garota...

Hien...quando eu li lá no meu blog o título dessa postagem pensei que nela você falava do seu estreito laço com a cama...rs

Gostei do texto Bia, assim como a Srta acima!

Pede pro Arion calar a boca...