segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Partida

Mariana morrera de desgosto. Era apaixonada pela vida. Dinâmica e ativa. Acordava cedo para malhar; corria no bosque perto de sua casa; adorava sentir o vento batendo em seu rosto, chegava a fechar os olhos para sentir o sangue correndo nas artérias, a brisa e o cheiro da chuva que chegava.
Ao chegar em casa abria as cortinas e janelas para o sol entrar, ligava o som. Abria o chuveiro e a cada gota que caia em sua pele ela se sentia estasiada. Tomou seu café com leite e torrada e comeu uma maçã. Deu alpiste para seus canários e saiu cantarolando"...don't worry, about a thing, 'cause, every little thing is gonna be alright...."
Sempre entrava na clínica com um sorriso belo nos lábios e um bom dia cheio de entusiasmo que contagiava os pacientes. Todos gostavam muito dela, os tratava com carinho e dignidade. Sua segunda paixão além do trabalho era a fotografia que nas horas vagas praticava. Na verdade, fotografava tudo e percebia os mais belos detalhes mesmo das cenas mais terríveis. Ela de fato tinha o dom de retirar das pessoas e situações o melhor. Nunca se abalava. Era doce e firme. Exalava um perfume cítrico e adocicado com um quê de alegria que trazia em sua alma.
Certo dia, sentada no parque, após uma longa quinta-feira, com as pernas cruzadas sob o banco, os olhos fechados e o rosto voltado para o céu, respirava fundo o ar fresco do bosque, era uma tentativa de reunir forças e coragem, mas nesse momento, simplesmente se desligara. Segurava nas mãos uma carta, com uma única frase: Sinto muito, não deu certo.
mariana nem mesmo chegara a ler tal frase. Mas o desgosto que lhe invadira naquele momento foi mais forte que tudo de bom que ela trazia dentro de si, já não estava mais ali. Partira. Sem que ninguém soubesse a razão de tão grande terror.